O QUE É, EXATAMENTE, UMA EMPRESA FAMILIAR?

Family meeting real-estate agent for house investment Observando-se a necessária distinção acadêmica entre os termos “sociedade” e “empresa”, a empresa familiar, em linhas gerais, pode ser definida como aquela cuja propriedade e administração, no sentido do controle sobre as decisões operacionais, estão nas mãos de uma ou mais pessoas ligadas por laços familiares[1]. Inicialmente, esse controle econômico era total, mas ao longo do tempo muitas empresas familiares, seguindo as tendências de mercado, têm profissionalizado sua gestão, mediante a contratação de profissionais de mercado, mantendo consigo o controle do grupo empresarial. Assim, mais do que a simples observação do quadro societário e de administradores, o elemento central para caracterização de uma empresa familiar é perceber se o funcionamento e as relações de controle da sociedade advêm, na prática, de um grupo (duas ou mais pessoas) que tenham algum tipo de laço familiar entre si. Diferentemente de outros países – Itália, por exemplo – é de se ressaltar que o ordenamento jurídico brasileiro não contém previsão legal específica quanto à disciplina da denominada “empresa familiar”, a qual não se constitui num tipo jurídico próprio. Contudo, a jurisprudência, em especial do STJ, vem, em alguns casos, concedendo tratamento diferenciado em relação a tais empresas daquele dispensado às demais empresas[2]. As empresas familiares podem apresentar as mais diversas características, tanto quanto à área de atuação, geração de empregos diretos e indiretos, podendo consubstanciar-se como grupos e conglomerados empresariais de grande, médio, pequeno ou micro portes. Algumas estimativas relevantes:

  • Cerca de 85% das empresas brasileiras são familiares;
  • Cerca de 80% das empresas mundiais são familiares;
  • Dos 300 maiores grupos privados nacionais, 265 são familiares;
  • 23 companhias abertas que fazem parte do Índice Bovespa são familiares.
Podem, ainda, atuar em qualquer segmento de negócio e explorar quaisquer tipos de atividades no comércio, na indústria ou na prestação de serviços. O aspecto marcante é que esta surgiu como um ideal dos membros da família no qual existe um vínculo emocional forte por pertencer a um projeto do pai, mãe, avô ou outro membro da família. A empresa familiar funciona com três fortes pilares: família, empresa e patrimônio. Lembrando que, para uma gestão de sucesso, é preciso que haja uma definição clara dos objetivos que a empresa pretende atingir e encará-la como uma grande empresa, onde todos devem contribuir entre si, com a missão de garantir o crescimento dela. Escolher familiares mais próximos é uma opção vantajosa, devido ao elo de confiança muito forte, mas em contrapartida existe a dificuldade de uma definição clara de hierarquia. Infelizmente, a facilidade que se tem para escolher familiares para trabalhar na empresa não é a mesma que se tem para conduzi-los frente ao negócio. Vantagens e desvantagens Este tipo de organização empresarial tem prós e contras que, dependendo das duas expectativas profissionais, pode ser a solução que você procurava para tempos de crise. Alguns pontos fortes:
  • Comando único e centralizado, permitindo reações rápidas em situações de emergência;
  • Estrutura administrativa e operacional “enxuta”;
  • Disponibilidade de recursos financeiros e administrativos para autofinanciamento obtido de poupança compulsória feita pela família;
  • Importantes relações comunitárias e comerciais decorrentes de um nome respeitado;
  • Organização interna leal e dedicada;
  • Forte valorização da confiança mútua, independentemente de vínculos familiares. A formação de laços entre empregados antigos e os proprietários exerce papel importante no desempenho da empresa;
  • Grupo interessado e unido em torno do fundador;
  • Sensibilidade em relação ao bem-estar dos empregados e da comunidade onde atua; e
  • Continuidade e integridade de diretrizes administrativas e de focos de atenção da empresa.
Pontos problemáticos: Primeira geração (fundador vivo)
  • Dificuldades na separação entre o que é intuitivo/emocional e racional, tendendo mais para o primeiro;
  • A postura de autoritarismo e austeridade do fundador, na forma de vestir ou na administração dos gastos, se alterna com atitudes de paternalismo, que acabam sendo usadas como forma de manipulação;
  • Exigência de dedicação exclusiva dos familiares, priorizando os interesses da empresa;
  • Laços afetivos extremamente fortes, influenciando os comportamentos, relacionamentos e decisões da empresa;
  • Valorização da antiguidade como um atributo que supera a exigência de eficácia ou competência;
  • Expectativa de alta fidelidade dos empregados. Isto pode gerar um comportamento de submissão, sufocando a criatividade; e
  • Jogos de poder, nos quais muitas vezes vale mais a habilidade política do que a característica ou competência administrativa.
Segunda geração (transição entre filhos e primos)
  • Falta de comando central capaz de gerar uma reação rápida para enfrentar os desafios do mercado;
  • Falta de planejamento para médio e longo prazos;
  • Falta de preparação/formação profissional para os herdeiros;
  • Conflitos que surgem entre os interesses da família e os da empresa como um todo;
  • Falta de compromisso em todos os setores da empresa, sobretudo com respeito a lucros e desempenho;
  • Descapitalização da empresa pelos herdeiros em desfrute próprio;
  • Situações em que prevalece o emprego de parentes, sem ser este orientado ou acompanhado por critérios objetivos de avaliação do desempenho profissional;
  • Falta de participação efetiva dos sócios que legalmente constituem a empresa nas suas atividades do dia-a-dia; e
  • Às vezes, uso de controles contábeis irreais “com o objetivo de burlar o fisco“, o que impede o conhecimento da real situação da empresa e sua comparação com os indicadores de desempenho do mercado.
Desde o início, é saudável estabelecer regras claras para todos da família, com a definição de funções e responsabilidade de cada um e, principalmente, conscientizar a todos que são colaboradores e, portanto, serão cobrados constantemente. Outra recomendação (que pode ser aplicada em várias ocasiões em sua vida profissional) é o planejamento do futuro, estabelecer metas com prazos definidos e fazer o devido acompanhamento. Realizar reuniões para discutir os rumos que a empresa está tomando também é uma medida importante! Em relação ao controle financeiro, deve-se ter o cuidado para que as contas pagas sejam exclusivamente contas da empresa, evitando o erro muito comum de usar recursos da empresa para pagamento de contas pessoais ou de familiares. É importante observar as atribuições do responsável pelas finanças da empresa. Ocorrem muitos casos de o gestor financeiro ser também gestor operacional ou vendedor, acabando por cuidar somente dos recursos disponíveis e negligenciando um planejamento e uma visão de longo prazo, que são fundamentais para empresa. Um dos pontos críticos mais comuns é o tratamento diferenciado entre funcionários. Seja familiar ou não, todos devem ser tratados e cobrados por resultado de maneira igual, o mesmo vale na hora de elogiar. Vale lembrar que identificar entre os herdeiros aquele que teria o melhor perfil para comandar os negócios é uma questão-chave para a empresa. É preciso cuidar da separação entre os papéis e as atividades dos seguintes núcleos:
  • Familiar (trata da integração social dos seus membros);
  • Societário (deve se responsabilizar pela criação de mecanismos, acordos e treinamento dos acionistas);
  • Executivo (responsável pelas estratégias empresariais e relacionamento da empresa com a sociedade).
Mediante uma estruturação da empresa familiar de forma transparente, com governança corporativa e equilíbrio entre os anseios e expectativas de todos os envolvidos, aumentam-se as chances de se perpetuar a continuidade da empresa familiar e seu desenvolvimento de forma duradoura. O maior desafio é não deixar que os laços afetivos (emoção) determinem as decisões de gestão da sociedade, que devem ser pautadas na racionalidade, planejamento e estratégia de mercado.   Fontes:  www.atitudeenegocios.com / www.fdc.org.br / www.portaldeauditoria.com.br / www.novonegocio.com.br /file:///C:/Users/Nereu/Downloads/Portuguese_Family_Business_Final_2008.pdf PIMENTA, Eduardo Goulart; ABREU, Maíra Leitoguinhos de Lima. Conceituação jurídica da empresa familiar. In: COELHO, Fábio Ulhoa. Empresa familiar: estudos jurídicos. Fábio Ulhoa Coelho e Marcelo Andrade Féres (coords.). São Paulo: Saraiva, 2014. PLETI, Ricardo Padovini. Empresas familiares & famílias empresárias: desafiadora transição entre duas realidades sistêmicas. In: COELHO, Fábio Ulhoa. Empresa familiar: estudos jurídicos. Fábio Ulhoa Coelho e Marcelo Andrade Féres (coords.). São Paulo: Saraiva, 2014. ADACHI, Pedro Podboi. Família S.A.: gestão de empresa familiar e solução de conflitos. São Paulo: Atlas, 2006, p. 21. [1] Para fins técnico-jurídicos o termo “sociedade familiar” é mais adequado. Contudo, em função da adoção corriqueira do termo “empresa familiar” e a destinação desse texto a não operadores do direito, adotou-se este último. [2] É o caso, por exemplo, da permissão de dissolução parcial de sociedade anônima fechada familiar.]]>