Afinal, como um conselho consultivo ou de administração pode auxiliar na perenidade da sua empresa familiar?

*Daniele Janssen

Empresas familiares trazem em sua essência fatores internos que podem impactar no direcionamento estratégico dos negócios. Lidar com esses fatores, entretanto, pode significar o enfrentamento de novos desafios para aquelas empresas que não adotam determinadas práticas de governança corporativa. 

Muito comum encontrarmos exemplos onde a falta de um planejamento sucessório impactou na gestão da empresa; onde a interferência de interesses pessoais da família foi sobreposta aos interesses do negócio, trazendo prejuízos para a empresa; onde a falta de profissionalização e informalidade na tomada de decisões desencadeou impactos negativos para a organização; e, até mesmo, onde a falta de interesse ou aptidão dos familiares ocasionou a busca por profissionais não vinculados ao grupo familiar. 

Não precisamos ir muito longe para encontrar exemplos bem-sucedidos de empresas familiares que, ao se depararem com algumas dessas situações, direcionaram seus esforços para implementar mudanças. Fato é que muitas práticas podem ser adotadas por empresas familiares, desde já, como um ponto de partida para a perenidade da empresa.

Uma boa alternativa para as empresas familiares é a adoção gradual das práticas de governança corporativa, seja para melhor estruturar suas atividades empresariais, seja para regrar o modo de condução dos negócios, ou até mesmo para implementar mecanismos que façam parte da estratégia e do pensar estratégico da empresa familiar, objetivando a sua preservação ao longo de gerações.

O estágio inicial pode ocorrer por meio da implementação de um órgão capaz de zelar pela cultura e identidade da organização, e até mesmo atuar no direcionamento de novas práticas, adotando uma maior formalidade e qualificação na tomada de decisões.

O conselho consultivo pode representar uma prática interessante para a implementação da governança corporativa nas empresas familiares que procuram estabelecer um processo gradual de aprimoramento de boas práticas. Seus membros não possuem poder decisório, apenas aconselhador, e têm o papel de sugerir e propor medidas para apreciação dos administradores/sócios. Poderá ser formado por membros internos da empresa ou até mesmo profissionais independentes, que poderão contribuir com sua experiência externa, trazendo uma maior qualificação no encaminhamento dos temas debatidos.

A ideia é que o conselho consultivo seja um órgão menos impactante para as organizações, vez que não possui caráter decisório, podendo servir como uma transição natural para a implementação do conselho de administração. 

O conselho de administração, por sua vez, possui caráter decisório e tem por finalidade a definição das políticas estratégicas da organização. No caso de empresas familiares, possui o importante papel de aprimorar a qualidade da gestão, proteger e valorizar o seu patrimônio, e o dever de conduzir e acompanhar o processo de sucessão de posições-chave da organização, sempre alinhado com os objetivos estratégicos da empresa.

Trata-se de um órgão relevante para assegurar a sustentabilidade e a longevidade da organização pois, sendo sua competência acompanhar a gestão estratégica do negócio, facilita o processo de sucessão de uma empresa familiar, proporcionando o aumento de chances de estabilidade do negócio na eventual ausência dos seus fundadores. 

Diferentemente do conselho consultivo, os membros do conselho de administração possuem poder de voto, estando legitimados a tomar decisões sobre as matérias de interesse da empresa, responsabilizando-se pelos seus atos. Por isso, compreender o estágio de maturidade da empresa para receber uma estrutura dessa e respeitar o contexto do negócio são alguns dos fatores determinantes para a implementação de um conselho consultivo ou de administração na empresa familiar. 

Independentemente de qual órgão seja adotado, trata-se de um ponto de partida para a perenidade da empresa, favorecendo a continuidade dos negócios e a profissionalização dos sucessores na condução do seu legado.